Por Padre Paulo Ricardo
Enquanto a celebração in coena Domini, na Quinta-Feira Santa, é dedicada à instituição deste sacramento, a solenidade de Corpus Christi, que estamos a celebrar, dá ênfase sobretudo à presença real de Nosso Senhor na Eucaristia.
No primeiro milênio da era cristã, esta solenidade não existia, pois ninguém ousava duvidar da realidade de Cristo nas espécies eucarísticas. Porém, no fim da Idade Média, começaram a surgir heresias distorcendo o ensinamento da Igreja neste sentido, como a falsa doutrina da empanação, segundo a qual, após a consagração, estariam na hóstia consagrada tanto o pão como Jesus Cristo. (Esse erro terrível culminou, no século XVI, com o protestantismo.) Foi em resposta a essas ideias perigosas que surgiu a Solenidade do Corpo e do Sangue de Cristo.
Compreende-se, a partir dessa ótica, por que os radicais “ecumenistas” não gostem e nem queiram essa festa. Trata-se, de fato, de uma celebração muito forte. As procissões solenes com Jesus sacramentado pelas ruas das cidades do mundo expõem publicamente a fé dos católicos na Eucaristia. No entanto, é inquestionável a sua necessidade também hoje, em face de tantos teólogos modernistas que ainda combatem a presença real e substancial de Nosso Senhor no sacramento eucarístico.
A presença de Jesus na Eucaristia não é apenas estática – para que O adoremos –, como para que d’Ele comunguemos. Assim, na procissão com o Santíssimo, Cristo estará na custódia, mas também em nossos corações, tornados como que “ostensórios vivos”.
Na verdade, somos muito mais que os ostensórios porque, quando Jesus está presente na Eucaristia, não comunica nenhuma santidade aos objetos com os quais entra em contato. Eles são sagrados – foram separados para o culto divino –, mas não são santos – i. e., não participam da natureza divina. Nós, por outro lado, quando recebemos a comunhão, estamos realizando o ato mais santificador da nossa vida espiritual.
Por isso, ao comungarmos, devemos preocupar-nos não somente com as disposições mínimas para receber a Eucaristia, mas também em aumentar a eficácia de Sua ação em nossa alma. Para tanto, é preciso que nos aproximemos de Jesus sacramentado com amor, um amor que anseia pela presença do Amado. Os grandes santos, como Santa Teresa de Ávila, tinham uma verdadeira sede de Nosso Senhor na Eucaristia e passavam por enormes sofrimentos quando, por obediência, se tinham de afastar desse divino manjar.
Para preparar a nossa comunhão na Missa, é importante visitar Jesus no sacrário, senão física, ao menos espiritualmente, a fim de dizer-Lhe o quanto gostaríamos de recebê-Lo. Essa prática é muito importante para quem está em estado de amizade com Deus e é reconhecida pelo Concílio de Trento, que elenca três modos de comungar Nosso Senhor:
“Alguns só o recebem sacramentalmente: são os pecadores; outros só espiritualmente: são aqueles que, comendo em desejo aquele pão celeste que lhes é oferecido, com a fé viva “que opera pelo amor” [Gl 5, 6], sentem seu fruto e utilidade; outros ainda recebem-no ao mesmo tempo sacramental e espiritualmente: são os que se examinam e preparam de tal modo que, vestidos com a veste nupcial [cf. Mt 22, 11ss], se aproximam desta mesa divina.” [1]
Celebrar Corpus Christi é recordar a presença santificadora de Cristo, para cuja recepção devemos nos preparar com muito cuidado. Afinal, é muitíssimo grave que recebamos a santíssima Eucaristia de forma displicente e negligente. Não se está nem a falar da comunhão em estado de pecado – o que é um sacrilégio –, mas de recebê-la de modo frouxo, laxo e tíbio, sem ganhar os frutos deste sacramento.
Para recebê-Lo digna e eficazmente, é necessário que nos exercitemos no amor, pedindo-Lhe uma fome cada vez maior de Sua presença. Assim, receberemos de Deus as graças para alargarmos o nosso coração.
[1] 13ª Sessão: Decreto sobre o sacramento da Eucaristia, 11 out. 1551: DS 1648
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